Vamos conjugar o verbo compartilhar?
Os comunistas jamais previram que haveria um tempo de se conjugar o verbo compartilhar. E sem que fosse necessária nenhuma revolução. Ou melhor, nenhuma revolução com armas e mortes, como era comum numa época em que se sonhou com um mundo igualitário, porém, mudando regimes políticos à força, pegando em armas e trucidando pessoas. Agora, não. As armas existem, sim, mas são tecnológicas. Afinal, chegamos a esse maravilhoso mundo novo, plano e colaborativo. Entretanto, como sempre, há os que resistem às mudanças. E ficam repetindo os mesmos padrões de comportamento. Vestem o uniforme dos novos tempos, mas continuam com a cabeça à moda antiga.
Hoje, quase todos nós frequentamos uma rede social, e a mais popular delas é o facebook. A cada dez brasileiros que conhecemos, nove têm perfil na famosa rede do Zuckerberger. O que não significa que todas essas pessoas já aprenderam a usar a rede para o benefício da comunidade. Não, muito ao contrário. O que se vê é um duro aprendizado do verbo compartilhar. As pessoas estão lá, mas continuam de punhos muito bem fechados, economizando cliques até para curtir o post de um amigo, quanto mais para comentá-lo ou compartilhá-lo. O resultado é que estão na rede, mas não conseguem entender o que estão fazendo lá, e porquê estão lá. Mantém o mesmo comportamento mesquinho e egoísta que caracteriza a maioria no mundo real. Não abrem os punhos para um clique, não abrem os braços para o abraço. E assim, perdem o seu tempo, inutilmente, porquê deixam de contribuir para a construção desse mundo mágico, onde a construção colaborativa, a economia criativa, são as verdadeiras inovações sociais.
Agora, e pior do que isso, não compartilhar, não comentar ou não clicar, é quando compartilham quase tudo o que você postou na sua página, num único dia, e não lhe dão os devidos créditos. O que demonstra, além do egoísmo, a cara de pau da hipocrisia.”Eu acho bacana , curti, adoreiiii tudo o que você postou, mas não vou “levar” o seu nome, seus produtos ou serviços pra minha página, porquê você pode me “roubar” os meus amigos ou fãs.” Imagino que esse seja o pensamento de quem tem esse tipo de atitude, porquê, não vejo outra razão para tal comportamento. A pessoa não percebe que o outro investiu um naco precioso do seu tempo, buscando imagens, textos, produzindo conteúdo interessante, linkando a com b, para dar c, ou seja, o seu amigo que fez isso, passou boa parte do dia tricotando, tecendo um pedaço da gigantesca rede mundial, e que isso é um trabalho que deve ser, no mínimo, valorizado com um clique, se o tema é do meu interesse – pessoal, profissional, amoroso, não importa. E, se é do meu interesse, provavelmente, também o seja do meu grupo de amigos, então, devo compartilhar esse contéudo com eles, devo recomendar, comentar, mas, sempre, mantendo os devidos créditos de quem o construiu.
Prá quem ainda não se tocou como é que funciona um trabalho colaborativo em rede social, tenho a dizer que também sou imigrante digital, não tenho fórmulas nem regras, e estou aprendendo, junto com todos. Mas sei que estou absolutamente encantada com esse mundo novo e as infinitas possibilidades que ele nos apresenta, as milhões de portas que eu posso abrir, para mim e para os meus amigos, conectando-os interesses de uns com outros, apresentando-os, linkando-os. Ontem, mesmo, aconteceu um exemplo fantástico disso que estou dizendo: visitei , por acaso, a página de fãs de casas portuguesas, me apaixonei pela reforma daquelas casinhas antigas, pelo trabalho de recuperação das almas dessas habitações tão tradicionais, e fiquei pensando o quanto é mais sustentável reformarmos casas antigas, em vez de lançarmos novos empreendimentos imobiliários. Principalmente em megalópoles como São Paulo.
Imediatamente, fui postando as fotos das casinhas, comentando-as, e estabeleci uma conexão automática com amigos arquitetos e outros que defendem a preservação de um santuário ecológico na Mata Atlântica, onde também seria ideal a restauração dos imóveis antigos, ou construção de casas com novas técnicas e materiais, como adobe e terra, cujos custos são muito mais baratos e os processos de produção, colaborativos e sustentáveis. Pronto. Estabeleci a conexão, apenas exercitando o verbo “compartilhar”, na prática. Fiquei muito feliz e realizada com essa ação. Pode ser que isso vire um empreendimento imobiliário. Ou não. Pode ser que eu participe dele, como consultora de marketing, ou não. Não importa. O primeiro passo que é o ato de tecer com amor essas conexões e conteúdos, já foi dado. E isso já é suficiente prá me deixar muiiiiiiiito feliz.
Então, chego à conclusão, que o mundo novo, plano e colaborativo já está aqui, e estamos todos pisando nele. Mas poucos, ainda, têm a chave para abrí-lo, e aí, sim, fazer parte, integrar-se, partilhar. E para aqueles que têm sensibilidade, aqui vai uma dica: vamos todos aprender a conjugar o verbo compartilhar: “eu compartilho/tu compartilhas/ele compartilha. Nós compartilhamos/Vos compartilhais/Eles compartilham”. E sejam todos muito benvindos ao maravilhoso mundo novo de 2012.
(*)Marisa Rodrigues é formada em Letras, pela Unesp-Campus de Assis; Comunicação Social pela Cásper Líbero, trabalhou como repórter , redatora e editora na Revista Veja, Folha de São Paulo, DCI, Shopping News, e atualmente é Publisher do portal Boi a Pasto e diretora de novos negócios na Taxi Blue Comunicação Estratégica.
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