E aí, curtiu?



 

E a vida digital, definitivamente, já se incorporou a nossa vida real. Não há mais como exorcizá-la. Pedir-lhe prá retirar-se “desse corpo, que ele não lhe pertence”, não dá mais. A vida digital agarrou a real pelos cabelos, e levou-a prá fazer footing nas rodovias das redes sociais. A praça mais badalada foi o Orkut, depois todos se mudaram, em revoadas, para o  Facebook, mas também fazem ponto no Pinterest, no Google +, às vezes se lembram do desprezado Linkedin, quando sentem uma dorzinha na consciência em relação ao tempo que roubam do trabalho nessa nova vida de globe trotters digitais. E, the last, but not least, ainda dão suas tuitadas, nem que seja por força do (mal) hábito.

Ninguém mais quer parecer um homem de Neanderthal, mesmo porquê até eles já deixavam suas mensagens rupestres nas cavernas, e ficar fora desse modismo que tomou conta de tudo e de todos. Para o bem ou para o mal. Entretanto, embora o número de participantes de sites como o Facebook, só prá ficar num exemplo, já ultrapasse a casa dos 800 milhões de usuários, a maioria está sim, nas redes, mas não participa, de fato, delas. Explico, melhor: prá participar, realmente, ou digitalmente, se preferir, a pessoa tem que interagir com seus amigos. E, isso é o que menos acontece, no dia-a-dia da nova agitada vida social. Participando ativamente do Facebook há dois anos – a febre do Orkut eu não peguei, pois não consegui curtir, de jeito nenhum, o febeapá de baboseiras que apareciam na minha timeline, as opções de interação não eram tão bem desenvolvidas como do Facebook, e eu não fui fisgada!!! – tenho dois perfis online, um com mais cara de profissional, onde tento direcioná-lo para os assuntos que interessam aos meus clientes da agência Taxi Blue, focados em agronegócios, outro pessoal. Somando a rede de amigos dos dois, são mais de tres mil amigos.  

Apesar disso, tanto num como noutro, apesar de na maioria das vezes, sempre que posto algo, receber pelo menos um sinal de joinha, dos meus amigos virtuais, observo, que quem faz isso são quase sempre as mesmas pessoas, sendo que pouquíssimas delas, curtem, poucas comentam, embora, muitas vezes, optem por compartilhá-lo, mas sem nem sequer deixar um “oi, estive aqui, brigadu!!!”.  O que quero dizer com isso é que resolvi escrever este artigo, embasada na minha experiência como usuária ativa das redes sociais, especialmente do Facebook, e ela ainda me deixa muito frustrada ao perceber que o grande pulo do gato que essa ferramenta proporciona às pessoas, que é a interação, ainda não foi sequer percebido pela esmagadora maioria delas.

As pessoas estão nas redes sociais, porquê é moda, e todos os seus amigos reais, estão lá, mas muiiiiiiiita gente não tem a menor idéia do que está fazendo lá. Acho muito curioso quando descubro que alguém “curte” os meus posts, mas jamais deixou um sinal de joinha em nenhum deles. Às vezes, descubro que a pessoa gosta do que escrevo, porquê ela compartilha o post, mas não tem coragem de curtir ou de comentar, o que é muiiiiiito estranho, convenhamos.  Outras vezes, fico sabendo da audiência por meio de mensagens inbox, onde a pessoa, reservadamente, faz elogios ou comentários, que, em quase 100% por cento dos casos, ela poderia tê-lo feito, publicamente, sem nenhum problema, prá ninguém. É claro que não estou falando aqui de comentários que devem, sim, serem feitos em particular. Aí, já é outra estória, e tem a ver com a educação das pessoas nas redes, mas isso é assunto prá outro post.

 Conversando com amigos sobre essa constatação, muitos confirmaram que observam o mesmo fenômeno. Então, embora não tenha feito uma pesquisa estatística sobre esse comportamento, paradoxalmente, antissocial, afinal, isso é apenas um post sobre a questão, sem pretensões científicas, a conclusão é desconcertante e verdadeira: as pessoas têm muito medo de se expor, ainda, embora, claro, sempre existam os mais desinibidos, ou mesmo, os exibidos mesmo, que se mostram o tempo todo, com fotos até dentro de toaletes de aeroportos, nem que tenham estado lá só prá irem buscar a avó que voltou das férias no subúrbio do Rio de Janeiro, ou a tia que viajou para matar a saudade da família no Nordeste, aproveitando o preço mais em conta das passagens aéreas. Óbvio que eu também já paguei os meus micos, nesse quesito, postando fotos de pratos da minha cozinha trivial domingueira, por exemplo, que não recebem nem nota -1. Rs!!!

Mas esse comportamento desembaraçado, em geral, é de uma minoria, que parece da maioria, porquê os outros ficam como caranguejos, escondidos em suas páginas dos perfis, enclausurados e quietinhos lá. E como profissional que estuda, vive e respira comunicação, 24 horas por dia, eu tento decifrar esse mistério. Por enquanto, consigo entender, dessas minhas observações, que essas pessoas não abrem a mão nem prá dar um clique e assim, curtir um post, porquê se mudaram para o mundo novo, plano e colaborativo das redes sociais,  mas esqueceram de levar o manual de sobrevivência nele, e não sabem ainda como devem comportar-se. Elas repetem no mundo virtual, o mesmo comportamento individual e um tanto egoísta do mundo real, ao qual estiveram acostumadas a sua vida inteira.

Ainda não sacaram que o mundo virtual foi concebido prá conectar de verdade, mentes e corações, em um só propósito:  melhorar a vida de todos, porquê, quando você abre a mão para curtir o post do seu amigo, você está abrindo inúmeras janelas de possibilidades para a vida dele, mas para a sua, também. Não importa se o seu amigo faça posts sobre política, futebol, artes, comportamento, educação, ou a falta de tudo isso. Se você curtiu, dá um clique lá. É assim que começa o primeiro passo na vida digital. Não basta fazer o seu perfil e adicionar apenas os seus amigos reais, pois estes, nós os encontramos todos os dias na vida real.

Detesto ditar regras prá quem quer que seja, mas, neste caso, prefiro citar alguns exemplos do que costumo fazer, nessa minha vida de globetroter digital: eu tenho por hábito ampliar o meu leque de amigos virtuais, sempre, adicionando pessoas interessantes, que agreguem valor a minha página, e consequentemente, às páginas de todos os que fazem parte da minha comunidade virtual. E assim, a minha timeline cresce em importância, fica muito mais colorida, divertida, diversificada em assuntos, que, em geral, abrangem todos os meus interesses, pois tenho de jornalistas a cientistas políticos, passando por arquitetos, poetas, designers, jipeiros, empresários de diversos setores, e por aí vai. E, claro, também me importo com a idoneidade de todas essas pessoas, prá não trazer inimigos para o ninho.

Então prá terminar esse post, eu quero sugerir às pessoas que se mudaram para o mundo virtual, mas ainda não sabem como decorar suas casinhas, ou construir os seus jardins, que saiam de seus casulos (pois eles apenas refletem, virtualmente, o que já vivemos aqui fora) e que aprendam a tecer a teia da rede. Que sejam uma aranha aplicada, desenvolvam os seus fios, construam os seus laços, enfim, não tenham medo de curtir, comentar ou compartilhar os posts de seus amigos na sua timeline. Você pode ainda não ter se dado conta, mas isso é o que torna a vida digital muito mais interessante. É o seu clique que faz toda a diferença, pois, imagine o contrário, se ninguém curtisse ninguém , prá que as pessoas iriam postar algo em seus murais? Todos os que fazem isso estão esperando por esse feedback. Óbvio que se você achar que é uma bobagem e não acrescentar nada importante para o seu dia, você não irá curtir, mas aí, aconselho-o a ir além, e excluir esse “amigo”, porquê ele também não entendeu que estar numa rede social, é quase como abraçar uma causa, ou uma missão: é preciso estar ali prá ajudar a construir um mundo melhor e mais harmônico, prá todos nós, a cada dia, ou a cada post. Com cada gesto de interação, arma-se a rede da interação, do conhecimento, e sobretudo, do relacionamento. E é isso que nos faz melhores, é essa ação comunitária que desbrava horizontes, diminui fronteiras, acaba ou neutraliza preconceitos, enfim, contribui para a construção de um ser humano melhor, mais ativo e consciente de seu papel no mundo. É fruto dessa experiência, por exemplo, a derrubada de ditadores no Oriente Médio, quando os jovens se uniram nas redes sociais por uma causa, e depois foram para as ruas, na conhecida Primavera Árabe, para defendê-la.

Mas não precisamos esperar por situações tão radicais, prá tomarmos uma posição. Podemos, com um simples gesto do polegar levantado, ajudar a acabar com a corrupção em nosso país, sinalizar para os nossos políticos que estamos de olho neles, nessas eleições, ajudar a encontrar um cão ou gato desaparecido do amigo do nosso amigo, mesmo que entendamos que isso seja uma causa menor, e até, de certa forma, desprovida de importância.  Não é o tamanho do seu polegar que importa, nesse momento, mas o que ele poderá desdobrar ou causar, de bom e de melhor, na vida do outro, que é o seu reflexo, na vida digital.

E aí, curtiu?

Comentários

mulher gato disse…
As pessoas estão preferindo assistir aos outros, mas não querem participar do processo, e pedem nossa amizade no facebook, isso faz uma garota pensar...belo texto, Marisa.

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