Entre a loucura e a criatividade, existe o foco
Quando eu era criança, adorava ouvir minha mãe contando sobre os tios delas que eram meio gênios, meio loucos. Tinha um que tinha "inventado" um violino. Parece que ele só tinha visto um violino uma única vez na vida, numa apresentação de uma orquestra de Natal, que viera de muito longe, prá tocar no coreto da cidade, naquele mês de dezembro. Ele voltou para o sítio tão encantado com o instrumento, que o desenhou numa folha de papel de pão, para não esquecê-lo jamais. Durante meses, ele passava horas admirando aquela imagem, contava minha mãe, com os olhinhos marejados de lágrimas.
Ela se lembrava de um outro tio que montara uma pequena usina geradora de luz, a partir de uma queda dágua no sítio, numa época em que só se usava lamparina. Ela contava com riqueza de detalhes sua proeza. Num tempo em que não havia escolas, livros, bibliotecas, e muito menos informação gratuita e à disposição das pessoas, como existe hoje, deve ter sido um feito e tanto. Esse outro tio de minha mãe, pelo que ainda me lembro de suas estórias, nunca tinha frequentado uma escola, e aprendera a ler e escrever sozinho, com almanaques de farmácias e as revistinhas da coleção Reader´s Digest, que meu bisavô assinara para os filhos, mesmo que ninguém em casa soubesse lê-las. Até os postes de luz, ele os fabricou, manualmente, a partir de troncos de árvores, também, derrubados de sua propriedade. Usou rodas de carroças para fazer os moinhos, e toda sorte de sucatas que foi encontrando no velho sotão, até que sua mini-usina produzia energia suficiente pára iluminar toda a casa, à noite. Ela dizia que era a única casa de sítio à época -- devia ser entre os anos 20 e 40 -- que podia se dar ao luxo de ter luz elétrica, pois quase tudo, ainda, era feito com a força dos burros, que giravam os moinhos, produzindo energia para fabricar açúcar e outros produtos de primeira necessidade. Luz, mesmo, só de lamparina à querosene.
E eu ficava absorvendo cada letra, cada palavrinha, com o mesmo entusiasmo da
queles velhos tios, megacriativos, mas, infelizmente, sem nenhum foco. Não me lembro direito, mas acho que todos sem exceção, morreram loucos ou abandonados em asilos ou manicômios. Hoje, olhando prá minha vida e meus irmão, percebo que trouxemos o DNA da criatividade e do empreendedorismo no sangue. É genético. O que não significa sinônimo de sucesso, absolutamente, se não houver estudo e muito foco. É isso: entre a criatividade e a loucura, reside o foco e toda sua luz . Mas poucos conseguem concentrar-se nessa luminescência transformadora.
Comentários
bjs carinhosos.