Eram os deuses astronautas?



(De que Galáxia eles vieram? Eles, os analistas de plantão das redes sociais, que não frequentam rodízios, odeiam Miami e os sacoleiros de grife, colocam no mesmo saco quem viaja para o litoral norte nos finais de semana e quem anda de buzão todos os dias, detestam cervejas, que não sejam artesanais e só comem produtos orgânicos. Quando foi que eles chegaram por essas paragens, e porquê não fomos avisados? Será que estávamos todos fazendo hora extra em Plutão? Esperando o próximo vôo, menos lotado, prá voltar pra Terrabrasilis?)

Por Marisa Rodrigues

Gostaria muito de saber  quem são as pessoas -- especialmente os jornalistas/blogueiros --  que escrevem suas análises sobre as recentes manifestações, taxando-os de  movimentos de subproletários, pobres em geral ou que saíram da tão malfadada classe média reacionária: que transporte eles usam? como costumam ir para o trabalho?Usam ônibus todos os dias, no horário de pico?Quantas horas demoram prá ir e vir? Eles tem empregados em casa ou em suas agencias/assessorias que dependem desses serviços?Sentem um mínimo de empatia por seus colaboradores que demoram todos os dias, em média, de três a quatro horas prá cumprir essa jornada macabra e diária?Fazem alguma coisa prá minimizar isso, como permitir que os colaboradores trabalhem a distância, alguns dias por semana?

Ah, mas eu também gostaria de saber a que classes sociais eles pertencem, como eles não se incluem em nenhuma, como se não fizessem parte da esmagadora maioria de pessoas que necessita trabalhar, pagar suas contas, comer e beber, vestir-se, estudar, viver, enfim. Eu fico aqui, me sentindo um etê, curiosíssima prá saber onde é que eles passam suas férias.  Certamente não vão prá Miami, nem prá Las Vegas, menos ainda para o nosso deslumbrante Litoral Norte de São Paulo, porque isso é coisa de classe média reacionária. Ah, então, já sei: vão andar de balão na Croácia? Viajam prás Ilhas Maldivas? Vão prá Tailândia?Uai, mas com que dinheiro, eles fazem isso, se também não são ricos, nem milionários? Será que são todos aposentados e/ou pensionistas da Dilma? Será que por serem lulo-petistas roxos, o Lula costuma dar uma carona prá eles, em suas viagens em jatos exclusivos, bancadas por empresários corruptos?Será que são todos amigos do Cabral, do Renan Calheiros e do Henrique Alves e só andam de jatinhos, particulares ou da FAB?




E o  que será que eles comem? Será que estão tendo que substituir o tomate e a batata em suas cestas básicas, quando vão ao supermercado, ou têm grana suficiente prá nem se dar ao trabalho de fazer essas contas, que fazem toda a diferença, seja no bolso dos mais pobres ou da classe média reacionária? Eu cá tenho prá mim, que compram mesmo aqueles produtos orgânicos, que (eles têm certeza!!!!), são livres de defensivos agrícolas, e por isso mesmo, custam muito mais caro. Mas, como não estou certa, gostaria de ouvir de um deles sobre isso, se este problema, dos alimentos custando muiiiiiiiiito mais caros, nos últimos tempos, já está afetando a vida deles, ou fazer contas no supermercado é coisa de “fiscal do Sarney”. Será que é isso que eles pensam?

Às churrascarias nos finais de semana, eu sei que eles não vão, porquê  não tem nada mais brega do que um lauto rodízio, né?Nisso, sou obrigada a concordar com eles, mas por outra razão: custa tão caro, que ando preferindo comprar meu próprio peixe ou carne e prepará-los em casa, a bancar contas de restaurantes astronômicas e ainda ser sujeita a um arrastão, no final da noite.  A não ser que costumam fazer isso, disfarçados com aquelas máscaras fakes do Anonymous. Senão, como vão escrever sobre os gigantes que, empanturrados de tanto comer carne aos domingos, resolveram arrotar na cara dos nossos governantes corruptos?

Mas eu gostaria de saber, mesmo, o que será que eles fazem prá se divertir? Os pobres, muito pobres ou subproletários, na linguagem arrogante desses pseudointelectuais, eu sei que têm que se contentar com o batidão e as letras horrendas do funk, (com tudo de arte popular que, como não sou obtusa como eles, ainda consigo enxergar nessa forma de expressão artística), pois não têm outra opção. Ou então, é ficar em casa, assistindo Faustão, futebol e corridas de Fórmula I, que isso ainda é de graça.  Os ricos, muito ricos e milionários, compram ingressos a R$ 600,00 com antecedência de quatro meses, prá ver shows da Beyoncé em Nova York. Ou do Bom Jovi, no Pacaembu, em setembro. Mas eles podem se dar a este luxo,né?


Mas e os jornalistas/blogueiros/ intelectuais,  quando não ganham esses ingressos com antecedência prá falar bem (ou até mal, não importa), como é que fazem prá se divertir?Ah, já sei, não se divertem nunca, por isso escrevem  textos cada vez mais azedos e rançosos contra tudo e todos, e nunca  vêm beleza em nada?Taí, pode ser uma resposta. Não muito convincente, porquê eu estou deduzindo-a, e o que eu gostaria mesmo era de ouvir deles, desses nossos sociólogos, cientistas políticos e outros analistas esquerdopatas congênitos, uma leitura menos amarga da sociedade brasileira contemporânea e alguma esperança em suas lutas e manifestações por um Brasil  mais justo e feliz, onde todos pudessem tomar Red Label 50 anos (porquê cerveja, se não for genuinamente artesanal e bem cara, também é coisa de classe média reacionária, vamos combinar, né?), viajar prá alguma ilha ainda desconhecida do Tahiti, nas férias, morar em palácios suntuosos construídos com o programa Minha Casa Minha Vida, e, de quebra, assistir com toda a família e amigos (e pagar o ingresso de todos eles) ao último espetáculo do Cirque du Soleil, em São Paulo, o Corteo, a R$ 400,00 cada um. 

 E, isso, porquê é subsidiado com o dinheiro dos impostos da classe média reacionária, via Lei Rouanet. Mas só os ricos, muito ricos ou milionários podem se dar ao luxo de comprá-los. Ou, ganhá-los, se forem críticos de arte bem sucedidos, ou, amigos do rei. Quem for de outro planeta, como esta escriba aqui, tem que contentar em vê-los pelo Youtube. E olha que já é uma tremenda inclusão social, hem?  


Marisa Rodrigues é formada em Letras pela Unesp, campus de Assis, em 1986; em Comunicação Social pela Fundação Cásper Líbero, em 1990; com mestrado em Marketing pela ESPM, em 1996; além de uma infinidade de cursos de especialização em comunicação, marketing e, especialmente, literatura, que é sua paixão maior. É sócia-diretora das agencias  Taxi Blue Comunicação Estratégica e Activa Press Assessoria de Comunicação; fundadora e presidente da Abrador (Associação Brasileira dos Portadores de Dor Crônica e Cuidadores). Co-fundadora dos Canais Universitário e Comunitário de São Paulo. Escreve para este blog  e colabora com alguns outros, quando sobra tempo,  espalhados pela blogosfera.

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