O bônus demográfico e a internet brasileira
por Gabriel Rossi
Bônus demográfico é o momento em que grande parte das pessoas está em determinada faixa etária que facilita o crescimento econômico. É, em suma, quando há um enorme contingente da população em idade produtiva e um menor número de idosos e crianças. Altas taxas de natalidade e de idosos agravam problemas sociais, já que estas duas “categorias” em geral não trabalham e demandam gastos. O Brasil, acredite, está exatamente no momento de seu bônus demográfico. Sua população é majoritariamente adulta, produtiva. Um momento especial, anseio de todas as nações. Mas uma chance que será perdida se não houver conscientização de que o presente requer medidas de preparo para um futuro diferente, melhor.
Segundo a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a taxa de fertilidade da mulher brasileira é hoje de 1,8 filho, em média, índice baixo, bastante próximo ao dos países ricos (1,7 filho por mulher). Isso é bom, e faz parte do chamado bônus demográfico. Se o País aproveitar, esse bônus demográfico permitirá que a renda per capita do brasileiro aumente 2,5% ao ano entre 2010 e 2050, de acordo com projeções dos especialistas. Na metade do século haverá o problema de envelhecimento da maior parte da população, mas até lá a qualidade de vida dos cidadãos tende a melhorar e a sua capacidade produtiva, a aumentar, desde que o País tire o atraso em áreas como educação. E aí está o “pulo do gato”. Não é mais possível pensar em educação como se pensava até a década de 1990. É fundamental que a população brasileira tenha, juntamente à melhor qualidade no ensino, uma completa inclusão digital.
O País não pode ficar para trás. A inclusão digital já é realidade em várias partes do mundo, enquanto aqui é um sonho. E o bônus demográfico, que permitirá crescimento acelerado da renda dos brasileiros, é o momento ideal para o Brasil agir nas duas frentes. Atuar na educação tradicional, claro, é uma das chaves do possível sucesso brasileiro, já que, segundo a própria OCDE, o atraso brasileiro nesta área é dos maiores do mundo, com o País sempre na rabeira dos rankings de aprendizagem. Mas em 2050 a realidade será outra, será digital. E não bastará ter uma educação melhor, pois, sem qualquer mudança de rota, os países também irão melhorar, e com todos incluídos digitalmente, anos-luz à frente do Brasil.
Está na hora de o governo federal investir na expansão da banda larga, na modernização de infraestruturas por todo o território nacional. As lan houses, que nos últimos anos pipocaram até mesmo nas menores cidades, devem ser interpretadas como pontos sociais, não apenas de comércio. A necessidade de incentivos à iniciativa privada é primordial. E, fundamental, é preciso dar acesso ao que melhor se produz na internet. E isso, que fique claro, somente acontecerá com forte investimento em tecnologia e educação digital.
É importante notar que o crescimento demográfico no Brasil é único em relação a seus atuais “concorrentes” diretos, as demais nações do Bric. A exceção é a China, onde a taxa de fertilidade caiu para 1,5 filho por mulher em razão de uma legislação absurda, inaceitável nos países democráticos. Na Índia a taxa de fecundidade ainda é de 2,7 filhos por mulher. Na África do Sul, 2,5. A Rússia registra uma taxa de natalidade negativa de 0,6, ou seja, muito abaixo do nível de reposição, acarretando o problema de envelhecimento da população.
Recentemente o Banco Mundial utilizou trabalho dos professores Cássio Turra e Bernardo Queiroz, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que considera que o "primeiro dividendo" demográfico brasileiro foi usufruído no período 1970 a 2010, tendo contribuído com 30% do crescimento econômico do País, embora tenha ficado aquém do ideal. O "segundo dividendo" demográfico pode ser colhido entre 2020 e 2050, ampliando a produtividade do trabalho. Que oportunidade! O futuro brasileiro não passa pelo analógico. Passa pelo digital. Estradas, trens-bala, aeroportos, enfim, a estruturação do país é bem vinda, já que o atraso nesta área é dos maiores. Mas jamais houve qualquer anúncio estatal efetivo sobre uma malha digital de alta velocidade mais abrangente.
O Brasil terá de promover mudanças de pensamento e aproveitar o momento especial para, em algumas décadas, deixar de ser uma economia emergente. Precisa pensar grande, rapidamente, de maneira digital.
Fonte: Correio Brasiliense
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