Povo histérico não produz revolução; produz caos
Percebo, em quase todos os comentários que leio nas redes sociais, que a maioria das pessoas enxerga o processo eleitoral que estamos vivendo neste ano de 2014, onde o cargo máximo disputado é o da Presidencia da República, não como um processo democrático, onde a alternância de partidos no Poder é extremamente benéfica para que a democracia possa se oxigenar e se aprimorar no País. Não, Todos têm suas crenças, preferencias e, não enxergam nada de bom que outro partido, que não seja o seu, tenha feito. As conversas ficam obtusas, enviesadas, principalmente, por falta de informação das pessoas.
Percebo também, estupefata, que jornalistas, professores, doutores, mestres, enfim, gente com nível superior de escolaridade, não fazem leituras críticas das campanhas, nem dos programas de partidos. Ao contrário.Tomam uma "informação" como verdadeira, geralmente repetida à exaustão e não vão pesquisar, se informar, ter certeza de que aquilo é mesmo verdade, antes de sair repetindo ou, melhor, pregando, por aí. Tem gente que diz aberrações como uma moça, ouvida num vídeo, que diz que a "bolsa família foi criada no Governo FHC (certo!!!), mas durante o Governo Militar. Ahnn???Fernando Henrique, pai do Plano Real, ministro da fazenda do primeiro Governo eleito democraticamente,com a chapa Collor- Itamar, após as malfadadas Diretas Já, e presidente eleito, em 1994,pelo PSDB. Como isso poderia ter acontecido no Governo Militar? Como uma pessoa pode juntar alhos com bugalhos, assim, sem nem um cuidado de checar as informações, antes de sair trombeteando por ai?
Eu, com o vício de jornalista, (thank´s God) de checar todas as fontes, de todos os lados, antes de dizer ou publicar qualquer coisa, fico estarrecida. Mas não são só jornalistas que promovem essa desinformação, à torto e à direito, nos seus blogs abjetos, promovidos com o dinheiro público, não. Professores, do ensino fundamental à universidade; advogados que se dizem ativistas;biólogos; médicos, enfim, gente que teve oportunidade de estudar, coisa que ainda é algo para poucos nesse país miserável, onde a maioria dos domícilios não têm nem um banheiro para os seus moradores; onde o esgoto corre a céu aberto; essas pessoas são privilegiadas, por, no mínimo, terem tido pais que se preocuparam com a sua educação, e deveriam devolver isso -- o acesso à cultura e à educação -- à sociedade, com responsabilidade. É o papel de cada cidadão.
Isso é o mínimo que um país pode esperar de seu povo: responsabilidade para com a informação, pois ela pode promover o desenvolvimento, a inovação, o progresso individual e social, como pode atrasar tudo isso; obliterar a visão das pessoas; fechar as portar para as oportunidades; tolher as expressões de liberdade, artísticas, de ir e vir, do livre pensar e ensinar. Enfim, é algo muiiiiiiiiiito, mas muiiiiiiito sério o que está acontecendo no Brasil de hoje, exacerbado agora com o bipolarização das eleições.
Quem ainda tem um mínimo de discernimento e lucidez, distante de tudo isso, prá não se contaminar, precisa, também, fazer a sua lição de casa, e escrever ou contribuir com artigos como este, que escrevo agora, para baixarmos os ânimos, tentar levar as pessoas à reflexão, à razão, a checagem dos fatos antes de propagá-los como mentiras sórdidas, e atirá-los na cara uns dos outros, pois, senão, daqui a pouco, estaremos vivendo uma guerra civil. E com grandes chances dos uniformes verde-oliva saírem das casernas, definitivamente. Sendo que nem saberemos porquê (com que objetivo) estaremos brigando.
Aliás, não é por outra razão que as manifestações de 2013, apesar da explosão nacional, murcharam rapidamente como balões de ar, pois não tinham propostas, conteúdos sérios e objetivos. Era uma explosão de descontentamento, mas sem união de propósitos, onde a "minha" verdade era mais "verdadeira" que a sua, e vice-versa. Deu no que deu. A população que não saiu às ruas, mas que apoiava o movimento no começo, deixou de apoiá-lo e ele se desinflou, perdeu forças, quando poderia ter continuado e crescido até às vésperas das eleições, com o objetivo de mudar de verdade o panorama político que estamos vivendo, mas para melhor, obvious.
Marisa Rodrigues, é formada em Letras pela Unesp de Assis (S), em Comunicação Social pela Cásper Líbero (SP), com ênfase em jornalismo, especialização em Marketing Digital pela Madia Mundo Marketing, sócia-diretora da Taxi Blue Comunicação Estratégica, poeta, autora de livros e antologias. Escreve sempre aos sábados, no seu blog Taxi Blue www.taxiblue.blogspot.com e colabora, frequentemente, com vários jornais do Brasil.
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